quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Sem palhaços e picadeiros




“Amar o perdido deixa confundido esse coração...” Quem nunca passou por uma situação semelhante descrita por Drummond em seu poema Metade? Nós muitas vezes vivemos dilemas ocasionados pelos nossos instintos emocionais, esses que ainda em minha cabeça não se decidiram se são inatos ou adquiridos, só apenas que existem e que são mais fortes que eu.
Já vivi muito de platonismo, acredito que toda a minha vida, minhas sensações, minhas experiências se embasaram apenas em emoções projetadas. Isso, eu tento o tempo todo projetar no fato as minhas emoções individuais e não as minhas emoções coletivas. Não vivo o momento, tão pouco a sensação do mesmo. O agora para mim é vazio, sem graça, com tonalidades opacas e sem formas definidas. Seria como um circo sem picadeiro, sem acrobatas saltando e palhaços coloridos com bolas vermelhas no nariz.
Às vezes me sinto em um oceano sobre uma lancha, cujas águas são em tons de cinza, iluminado por uma lua branca, onde seus raios traçam as águas desse oceano. Sinto-me sem colunas fortes que possam sustentar o grande peso depositado em mim. Um peso que às vezes é duro e pesado de carregar sozinho!
Já li, escutei e escrevi várias vezes: “O homem não vive sozinho, ele depende do outro para viver.” Linda frase, que pode ser bem desdobrada. Fato que o homem jamais viva sem outros a sua volta, formando assim a sua rede social, mas a pergunta que paira é: Qual o valor semântico da palavra viver nessa frase?
Viver como forma biológica, natural é algo esperado, desde que o indivíduo venha à vida, pois como na natureza as coisas tendem a viverem um ciclo vital para se manter a homeostase. Mas será que só o viver natural se faz um homem completo? Não.
O homem para viver precisa de mais! Precisa estar bem consigo para se relacionar com o outro. Para viver com o outro! Uma questão que teoricamente funciona, assim como nos manuais da vida que funcionam na teoria. Mas na vida real não é assim, na pratica tão pouco.
Muitas vezes não estava bem, passava por problemas de cunho emocional, até que por mágica aparece uma pessoa aparentemente legal, tentei me apega. E me apeguei. Apeguei-me, pois era o que estava a meu alcance – pelo menos achava -. Apoiei-me em modelos ou projeções inconscientes nesse ser que achava que iria me ajudar, iria sanar um pouco das minhas dores, me fazer recuperar, me reerguer...
Mas a coisa funcionou de maneira inversa. Meu modelo sofria de problemas maiores que os meus, estava inundado e intoxicado por sentimentos ainda mais cruéis e mais dolorosos que os meus. E eu na minha inocência e sensibilidade – uma vez que por meus problemas andava sensível, a ponto de chorar por novelas-, abdiquei de minhas dores para cuidar e ajudar o meu modelo a sanar as suas dores!
Eu fui cuidando de pedacinho em pedacinho, limpando ferida por ferida até cicatrizá-las. Tentei acabar com as dores, as mágoas e as partes feias tentei cortá-las. Até que tenho um ser novo, capaz de viver sua vida bem.
Quando minha plantinha já está linda e florescendo, eu tento me curar, aliás peço que cuide penas um pouquinho de mim... minhas feridas.. minhas dores.... Mas aí aparece um novo comprador para minha plantinha e a leva para longe de mim... me restando apenas dar-lhe um beijinho de despedida e vê-la ir...feliz....
Vê-la partir aumenta as minhas dores, meus machucados, minhas feridas, meu coraçãozinho chora, meu pulmãozinho dói de tanta força para gritar. Meus olhinhos se inundam em lágrimas de tristeza que nunca vai cessar.
Nunca chorei de alegria, nunca fui surpreendido com um: “Você é especial para mim.”. Mas já fui muitas vezes enganado com um sorriso, uma piada, um beijo e inúmeras vezes com um “Eu Te Amo!”.

“Você pegou na minha mão, Você me mostrou como
Você me prometeu que ficaria por perto,
Eu absorvi suas palavras e eu acreditei

Lembra-se quando nós éramos tão bobos
E tão convencidos e tão, tão legais
Eu queria poder te tocar de novo
Eu queria poder ainda te chamar de amigo
Eu daria qualquer coisa...”